Em 1992, a USINA foi convidada pelo Movimento Sem Terra Leste 1 (MST Leste 1) a acompanhar um novo grupo de famílias que haviam conquistado da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Governo do Estado de São Paulo (CDHU) a doação de uma gleba terras ao lado do Mutirão 26 de Julho – primeira experiência da USINA com o movimento – e o financiamento para a construção, por mutirão e com autogestão, de um conjunto com 160 unidades habitacionais e um centro comunitário.
Esta conquista foi resultado de um intenso processo de luta por parte dos movimentos de moradia da Zona Leste de São Paulo e envolveu a realização de diversas ocupações na região – algumas delas retiradas violentamente pela Polícia Militar. A viabilização do Mutirão União da Juta foi uma conquista expressiva dos sem-teto perante o Governo do Estado de São Paulo – para o qual se voltaram as pressões dos movimentos de moradia com o fim da Gestão Erundina (1989-1992) na Prefeitura de São Paulo. Nesse contexto, a relação dos sem-teto com a CDHU foi permeada por tensões do início ao fim do processo. Exaustas depois de anos de negociações e reuniões, as famílias decidiram entrar no terreno e começar as obras antes mesmo da liberação dos recursos e sem qualquer autorização para tal. Com isso, as obras do Mutirão União da Juta foram iniciadas ainda em 1992 – momento em que o país vivia um período de grande instabilidade econômica. A criação do Plano Real, em 1993, também prejudicou a Associação, que acabou ficando deficitária por conta das conversões. Depois de muitos atrasos na liberação dos recursos e conflitos de toda ordem com a CDHU, o Mutirão União da Juta foi finalmente inaugurado em junho de 1998, seis anos após o início dos trabalhos. Em relação a outros processos desenvolvidos pela USINA, um dos aspectos mais marcantes do Mutirão União da Juta foi a construção antecipada do centro comunitário – que durante a obra funcionou como sede do canteiro e creche. Com o fim das obras, manteve-se a creche (que passou a funcionar por meio de um convênio com a Prefeitura) e os outros espaços foram utilizados para a instalação de uma padaria comunitária, biblioteca, salas para cursos de formação para os jovens e uma capela. Tendo sido realizado depois de várias experiências importantes para a USINA, o projeto para o Mutirão União da Juta incorpora diversos avanços em função das reflexões e aprendizados que já haviam sido acumulados pelos arquitetos da Assessoria em seus primeiros anos. Do Mutirão Cazuza (Diadema - SP), o projeto assimilou a utilização de blocos cerâmicos autoportantes que, além de garantirem uma construção de qualidade, dispensavam o uso de vigas e pilares – de execução complexa e dispendiosa – e também o revestimento da fachada – caro e inseguro de fazer, com seus andaimes altos e precários. Do COPROMO (Osasco - SP), o projeto para a União da Juta incorporou a utilização das escadas em estrutura metálica – erguidas logo após a execução das fundações –, que permitiam o transporte seguro de pessoas e materiais, além de fornecerem prumo e nível para as edificações. Outro aspecto importante do projeto desenvolvido pela USINA junto aos mutirantes foi a adoção de três tipologias distintas de apartamentos – todas com dois dormitórios e áreas entre 63 e 68 m² –, por meio das quais se procurou atender às necessidades das diferentes famílias.Em meio a uma selva de urbanização incipiente, o projeto realizado pela Usina em parceria com os mutirantes destaca-se pela volumetria obtida, resultado da combinação de desenhos diferenciados e pelo perfil recortado das coberturas, em telhas cerâmicas. Esta variedade de tipologias para as unidades habitacionais também favoreceu a criação de espaços de convivência associados à circulação vertical que – diferentemente do COPROMO –, se situavam num nível intermediário entre os diversos pavimentos das edificações, garantindo mais privacidade para os moradores. Por terem sido bem recebidas, as tipologias pensadas para o Mutirão União da Juta acabaram sendo utilizadas em outro mutirão organizado pelo Movimento Sem Terra Leste 1. Este novo conjunto – também construído na Fazenda da Juta –, recebeu o nome de Mutirão Juta Nova Esperança e foi inaugurado em 1999. Participaram diretamente da redação deste texto: Ícaro Vilaça e Paula Constante. |
local
Fazenda da Juta São Mateus, São Paulo – SP linha do tempo
agente organizador Associação de Construção União da Juta, filiada à ST Leste 1, por sua vez vinculada à União dos Movimentos de Moradia - UMM agente financiador
atividades desenvolvidas pela usina
escopo do projeto
equipe
principais interlocutores
tipo de canteiro Mutirão autogerido com mão-de-obra assalariada complementar técnicas construtivas Alvenaria de blocos cerâmicos autoportantes e escadas em estrutura metálica independente famílias 160 |