A Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto se propõe a ser um centro de formação do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) para a região do extremo sul da Bahia. Nesta região de Mata Atlântica, devastada pelo avanço da monocultura do eucalipto, pastos e plantações de café, as famílias precisam cotidianamente experimentar, aprender e ensinar formas de manejar e recuperar os solos e os agroecossistemas severamente danificados.
O Projeto Político-Pedagógico da Escola, baseado na agroecologia, que se distingue da agricultura convencional, expressa a luta política que exige uma educação com intencionalidade e criticidade diante das contradições e conflitos sociais da luta de classes. A opção pela agroecologia não é neutra, tampouco a opção pela pedagogia freireana, pois leva em consideração que cada modo de produção produz também o seu espaço. Uma das primeiras atividades realizadas no processo de projeto (ainda em andamento) foi o que chamamos de cartografia apropriada. Uma elaboração coletiva do mapa da região, com a identificação dos assentamentos, estradas, áreas de proteção ambiental, produção agrícola, etc. Durante o processo um dos participantes propôs identificar os “desertos verdes" (grandes plantações de eucalipto) e as grandes fazendas de gado. Isso, junto aos assentamentos, acampamentos e agrupamentos de pequenas produções, torna-se um material gráfico/didático da configuração do território em conflito. Num segundo momento foi realizada a "atividade dos triângulos". Esta dinâmica se propõe a começar por formas mais abstratas de organização, fluxos e hierarquias dos espaços e seus vazios, sem a referência real do terreno e dos formatos/dimensões das edificações – desta maneira o programa leva à espacialização e não o contrário. Retirar a referência do terreno era fundamental, uma vez que a configuração atual remete à hierarquia da antiga casa sede da fazenda localizada na parte mais alta do terreno onde hoje funciona administração da escola. Como resultado, formou-se uma composição espacial na qual a administração não assumia uma posição central, e se criava um novo "coração" da escola formado pela biblioteca, praça central, refeitório e a cozinha. Um dos grandes desafios foi realizar um processo participativo para um projeto com programa de necessidades altamente complexo, que inclui equipamentos tão diversos quanto auditório, biblioteca, refeitório, cozinha, salas de aula, etc. Para tanto, foi realizado um ciclo de atividades específicas para cada equipamento, com a utilização de móveis em escala 1:50. A exemplo das experiências em projetos habitacionais, partir do mobiliário possibilitou uma compreensão mais "concreta" dos espaços, pois era possível vislumbrar seus usos. A participação dos atores políticos no processo de projeto arquitetônico se transforma em um amplo processo de reflexão e criação sobre espaço e política. Nas palavras de uma liderança participante do processo, o desafio é "comunicar os princípios político-pedagógicos com a estrutura espacial, porque a forma também forma". Esta fala deixa evidente como o projeto participativo abre um raro espaço político de discussão arquitetônica: "A estrutura física não pode se sobrepor à horta. As pessoas não podem se encantar mais com a estrutura de um edifício da cozinha ou de um refeitório do que com a área demonstrativa, com a casa de sementes. Porque na nossa cabeça estamos muito vinculados ao prédio como o lugar onde se constrói a educação. Mas é muito pelo contrário, a gente quer que a escola produza conhecimento lá na horta, no experimento, isso é o central". |
nome do projeto
Escola Popular de Agroecologia Egídio Brunetto local Prado – BA linha do tempo
agente organizador MST Brasil; Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - USP agente financiador Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais - IPEF atividades desenvolvidas pela usina Assessoria na discussão e elaboração dos projetos (em andamento) escopo do projeto Projeto de arquitetura e urbanismo para a implantação da escola, incluindo salas de aula, biblioteca, refeitório, cozinha, ciranda, alojamentos, centro de eventos, secretarias, auditório, campo de futebol, camping e vestiários. equipe
principais interlocutores João Dagoberto dos Santos (ESALQ) e Julia Lopes (MST) |